quarta-feira, março 22, 2006

ALDA MERINI: CORPO, LUDÍBRIO CINZENTO

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No portão amontoam-se as vítimas
rostos nus e perfeitos
fechados na ignorância,
mãos paradoxais
agarradas a um ferro,
e lá fora o comboio que passa
soalheiro leve,
um estrondo de luz própria
sobre a minha margem ofendida.

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Chega a manhã azul
Ao nosso pavilhão:
Nos bancos de sol
E de áspera madeira
Sentam-se os doentes, nada têm a dizer,
Também eles cheiram a madeira,
Não têm ossos nem vida,
Ali ficam com as mãos pregadas ao ventre
De olhos fixos na terra.

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Caí numa armadilha profunda
Como dentro de um poço lodoso.
Ó quem poderá salvar-me desta imagem ardilosa
que assombra um amor movediço?
No fundo do poço há junquilhos de sombras
E o meu grito domina as águas.
O camaleão vigoroso observa das hórridas plantas
Este meu precipício secreto.

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(poemas de Alda Merini, excertos de “A TERRA SANTA”, Edições cotovia, Lisboa 2004)

fotografias de Marcello Bonfanti - Portrait of a Poetess

2 Comments:

Blogger lebredoarrozal said...

tenho mesmo que ler mais poemas dela.
estou arrepiada.

2:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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1:44 da manhã  

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